quarta-feira, 3 de março de 2010


Um «Passeio de Deus»
Por Isabel Rosete

Um «O Passeio de Deus»: O Dele, o seu, caro leitor, também o meu e, quiçá, o de mais meia dúzia de criaturas incógnitas, espalhadas, perdidas… por este Mundo, nem sempre com rosto próprio.
A hipocrisia acobarda as mentes das gentes pequenas, sempre com medo de erguerem as suas vozes; o "politicamente correcto" (odeio clichés) cala o dizer aberto dos tachistas por mero compadrio.
Ângelo Rodrigues mostra-se como o arauto des-construtor desta farsa boçal, bastarda e brejeira, que é o Mundo, que naturalmente escapa, que é obviamente invisível aos olhos míopes, aos ouvidos ensurdecidos dos espíritos adormecidos pelo convencionalmente imposto, aos espíritos castrados por um dito puritanismo que, claustrofobicamente, lhes esmaga a possibilidade de uma respiração oxigenada.
Ângelo Rodrigues, no seu «Passeio de Deus» (ou com Deus), é a mais perfeita antítese desta miserável constatação de uma humanidade terrivelmente apática, incapaz de rodopiar nas franjas do seu próprio círculo, imperfeito; de uma humanidade que sobrevive na latência de uma consciência que, a si mesma, já não se conhece.
Ângelo Rodrigues pega o toiro pelos cornos, com a nobreza de todas as pegas de caras. Jamais se emaranha nas labirínticas teias da dissimulação ou do dizer demagógico. A sua Alma epifaniza-se na transparência do seu próprio pensamento astuto, redondo, sem pré-conceitos, e no seu dizer sem freios.
Todas as palavras, que para o papel em branco transporta, estão, sempre, no seu devido lugar, sem eufemismos, sem rodeios, sem intenções en-cobertas.
A Verdade des-vela-se nos seus poemas e nos seus aforismos, bem à maneira heideggeriana, por mais "absurda" ou "risível" que seja.
Há, na escrita deste homem, a mão de Diónisos, a embriaguez catártica do deus que co-habita nas entranhas Terra, que promove, apologeticamente, o instintivo, o visceral, o libidinal, na sua clareza absoluta, "para além do bem e do mal", afastando a censura tirânica do Supre-Ego, a ilusória beleza e pseudo-perfeição das formas de Apolo, que ludibriam o território dos simples mortais, bi-céfalos.
Também eu aceitei o convite de me tornar "argonauta", embarcando, sem receios, na nave que «mostrará os novos universos poéticos criados pelo autor». Assim estou lendo «O Passeio de Deus».

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